Devo-te isto, quanto muito: estás atrasada. Se vieres ainda hoje, não batas com a porta, como é teu jeito. Sei que não fazes por mal, que não estás furiosa com a vida.
Mesmo se ninguém estiver em casa, não batas com a porta. Eu iria sempre senti-lo.
Ao entrares, faz como se estivesses em casa.
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Se me encontrares deitado, deita-te a meu lado. Antes, porém, certifica-te de que não tens os pés gelados. Entra com cuidado na minha cama: estou quente e sou frágil. Ou estou frágil e sou quente.
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Não te vou querer por me quereres, não é assim. Mas já foi. Não te vou olhar de um modo especial porque me olhas de modo especial. Aprenderei a caminhar a teu lado se chegar a ocasião de caminhar a teu lado. Não para te acompanhar ou seguir. Os passos são como tijolos que se usam para construir algo. Eu só aqui estou a ver as vistas. A ver se olhas para mim.
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Quando acordares, não voltes a adormecer. Se adormeceres, não chames por mim.
Saí para comprar café para o teu pequeno-almoço.
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Sempre te senti a transbordar de uma arte sensual pelos poros sem saberes. Coisas que nunca percebeste por serem corriqueiras. A forma dos teus dedos ao segurarem uma chávena de café. A muito ténue maneira como a tua língua bate nos dentes da frente, naquilo que chamo "esse doce falar enrolado". O modo como pareces desenhar mentalmente as coisas para que olhas.
E enquanto reparava em tudo isso em ti, tirei um macaco do nariz.
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Ontem e Hoje
Ontem vi o gajo na televisão, a ser entrevistado. Hoje falei com ele. Muito simpático. Uma jóia de pessoa.
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Acordei hoje às quatro e dez da manhã, sem saber porquê.
Hoje de manhã disseram-me que essa tinha sido a hora do sismo.
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Há 14 anos