quinta-feira, agosto 30, 2007

Por 10 textos apenas

A vida não me sorri: por vezes resolve abrir a boca e engole-me. A vida, essa indecisa, sabe fazer as coisas de modo perfeito. É fria e racional. Deixa-me confuso querendo, apenas, mais que tudo, saber fazer.
Às vezes a vida pontifica por aqui, parece-se muito com uma comichão desconcertante em céus-de-boca. Por vezes sem saída, sem conta, começando de forma tímida até surgir uma efectiva necessidade de ti. A vida não me sorri quando estás longe ou apenas longe de mim.
Tu. Mil anos a tentar descrever o que somos juntos. Outros mil a falar-te e a dizer-te, outros mais a compreender-te. És uma figura estranha, enleante, caminhando por outro caminho não assim tão longe, nem sequer perto.
Tu. Fintas-me as questões com mestria, és ambidextra e de rins nada dura.
Assim, simples, como imagens de um só som, voas eternamente navegante.
Conheces o sorriso de um dia como parte constituinte de uma caminho que leva a dois caminhos sem o cansaço da caminhada. O olhar, certa noite, como a lágrima que usas ao pescoço. O olhar, pela noite, certamente, mostrando a chama de um incêndio que inflama esta alma, dó maior.
Assim, bemol, seremos uma corrida de obstáculos a dois corpos.

Pernas brancas

com uma imitação fraca
uma música a misturar-se
que sinto à tua volta,
juro-o sem falta.

Julga os sentimentos,
mal apelo mais
(que mais tarde sorrias).

Esses monstros tigres
lágrimas de toda uma juventude
que ao absorveres
afagas
uma cama queimada.

Na urgência do amor
dogmaticamente
mostramos retratos, violências,
sorrisos.

Juro que partilho
imagem pateta.
Os teus olhos estão remendados
são como versos expectantes
com a tristeza de então.

Os teus olhos arredaram-se
numa mutação de cor,
um corpo doce.

Sinto-o cinicamente.
Parágrafo.
Chama de instantes
gesto impune
vida esparsa.
Definível visão
da cinza de um cigarro.

Setembro

Setembro dói mais. É um mês que nasce e morre no mesmo dia.
Setembro é flor de renascimentos, em pôr-de-sóis à beira-mar
escorregadio.
Setembro é sóbrio: ou se vence ou se perde.
Setembro carrega consigo pólens adormecidos,
que Setembro é sólido
e eu sei que estarás sempre aí.

A frase

é,
com gaze,
uma óptima morfina!