(...)
A rapariga era alta, e sua a figura, em ponto grande, de uma perfeita elegância. O cabelo era escuro e abundante, e tão luzídio que reflectia bem o sol; a cara, além de bela em feição e cor, tinha o poder impressivo que lhe dava o traço negro das sobrancelhas e o olhar também negro e profundo. Era senhoril, também, à maneira da fidalguia feminina daqueles tempos; caracterizada por um certo porte e dignidade mais que pela graça delicada, subtil e indescritível que hoje se tem por característica dessa fidalguia. Nem nunca tinha Hester Prynne parecido mais senhoril, no sentido antigo da palavra, que quando saiu a porta da cadeia. Aqueles que antes a haviam conhecido, e que esperavam vê-la abatida e ensombrada por uma nuvem de desgraça, admiravam-se, pasmaram mesmo, ao ver como a sua beleza irradiava, e tornava uma auréola a própria desventura e ignomínia que a envolviam. Será verdade que, para um observador sensível, havia nisso qualquer coisa de subtilmente doloroso. O seu trajo, que, aliás, ela mesma tinha feito na cadeia para uso nesta ocasião, e que tinha delineado pela sua fantasia, parecia exprimir a atitude do seu espírito, o desafio desesperado da sua disposição, pela sua singularidade estranha e pitoresca. Mas o ponto que chamava todos os olhares, e, por assim dizer transfigurava a pessoa - de sorte que tantos homens como mulheres, que haviam conhecido bem Hester Prynne, agora sentiram a impressão de que a viam pela primeira vez - era aquela LETRA ENCARNADA, tão fantasticamente bordada e iluminada sobre o seu seio. Tinha o efeito de um encantamento, que a arrancava às suas relações normais com a outra gente, e a fechava num mundo apenas seu.
Nathaniel Hawthorne (1804 - 1864)
A Letra Encarnada
(tradução de Fernando Pessoa)
todo o blogue é composto de mudança
Há 14 anos
20 comentários:
Lembra-te alguém?
Alguém que imagino, sim, Pirralha...
Não, carequinha, tenta outra vez. Graaauuu.
Cão anti-social? Pedro "não-vejo-daqui-a-ponta-do-meu-nariz" Serpa?
Qd escrevi o 1º post estava a pensar numa mulher misteriosa, charmosa, sedutora...
He, alguém chamou?
sente-se aqui resquícios de sensibilidades que se foram perdendo nos caminhos e encruzilhadas passados...
a procura continua...
...mas que continuam acesos na chama de corações mais antiquados, quiçá!
Ai carequinha... Tirava-te o boné e fazia-te cafuné no cabelo que não tens
Ando sem boné e sem tempo para cafuné...mas bem gostaria...bem que gostaria!
só para dizer que não tenho nada a ver com o que foi aqui escrito, pá
pedro
Eu também não, Pedro...eu também não...
podias ter posto algo menos enigmático, dado que é a minha primeira visita... já não há respeito :p
bem, vou ver os outros
A., tens toda a razão. Soubesse eu que a tua primeira visita recairia neste post e...teria posto gajas nuas! Esperando sempre, é claro, que as gajas nuas não sejam demasiado enigmáticas para ti, caro A., caríssimo!
são um pouco, até porque nunca vi nenhuma gaja nua... acho eu. mas já vi mais posts teus e a duvida inicial esbateu-se um pouco
tens que ter mais paciência, com o teu... caríssimo
a, sempre, paciência, sempre...
...mas não te esqueças do post das gajas nuas, pareceu uma ideia com pernas para andar, ou fugir :)
E tudo começou com uma tradução do Pessoa...
Mas posso confirmar que a miúda em questão é muito gira!
Enviar um comentário