quinta-feira, novembro 17, 2005

Alguns motetos

Leva meu rosto numa canção escura,
engastada no vinho cobiçado
por temerosa ser sua fundura.

De que me serve essa porção de terra,
esse mapa de abismos e veredas
onde o que sou se encerra?

Rompe meu sangue ferido na passagem
de quem não se deteve,
não foi sombra nem viagem.

Não acicates o fatigado fogo
que madruga nas letras
com que olhando interrogo.

Distante, alguém espera
que quanto vou de mim abandonando
seja seta que aviva e reverbera.

José Bento (1932)

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